domingo, 6 de setembro de 2009

Memorial Reflexivo

Há uns anos atrás toda menina sonhava em ser professora, o meu sonho não era diferente, meu pai queria que eu seguisse seus passos de comerciante, ele tinha um pequeno comércio, aqui chamávamos de venda. Mesmo sem ter completado as séries iniciais e minha mãe não ter completado a oitava série, lembravam-nos sempre sobre a importância do estudo.
Adorava ouvir as leituras de minha mãe, eu sentava ao seu lado e ela lia revistas, gibis, romances, poemas... doces recordações. Tomei gosto pela leitura. Trabalhava com meu pai e quando não tinha movimento na venda, tinha um livro comigo, às vezes alguém entrava e me encontrava chorando, logo me explicava dizendo que a história era muito triste. Sempre fui meio sonhadora e sentimental, me comovia com qualquer coisa. Não era muito estudiosa, mas tirava boas notas.
Era uma aluna tímida, aquela que o professor não lembra o nome, porque realmente este aluno não quer ser visto nem lembrado. Terminei a oitava série e então fiz a matrícula para o magistério, estava realizando meu sonho de criança. No último ano do curso em 1989 começaram os estágios, e foi uma experiência traumática. Assistir às aulas numa escola carente onde os professores precisavam cuidar também da família para que os alunos pelo menos frequentassem as aulas não era o que tinha sonhado. A história de cada criança me comovia, queria ajudá-los de alguma forma. Então decidi que não seria professora, terminei o curso e prestei vestibular para psicologia. Não passei. Decepcionada, voltei ao segundo grau técnico e fiz contabilidade, dessa forma não ficaria parada e ajudaria minha família no comércio. Meu pai ficou todo contente, pois era o que ele queria desde o início. Terminei o curso, nunca exerci a função e tampouco peguei o certificado.
Até que uma amiga prestou vestibular para o curso de Letras e durante o primeiro semestre conversávamos sobre as aulas, ficava entusiasmada, pois estava louca para fazer faculdade e ela me aconselhava a tentar o curso de Letras. Não me decidia, pois não conseguia me imaginar numa sala de aula, mas também não podia ficar parada, queria estudar, fazer algo mais. Tentei novamente e passei no vestibular para Letras. Era o destino me enredando.
Foram tempos difíceis, da minha cidade até a universidade, na cidade de Tubarão, eram quarenta quilômetros, viajava todas as noites e trabalhava durante o dia com meu pai. Essa foi a condição para ele pagar a faculdade, já que não me decidia achava que era besteira mais um curso. O empurrão foi de minha mãe que sempre me incentivou muito.
Fiquei apaixonada, encantada com curso de Letras, e descobria a cada dia o quanto ainda temos para aprender. Nas aulas de filosofia adorava repetir: “só sei que nada sei”, mas se estou aqui vou aprender! Mais tarde as aulas de literatura eram ministradas pela coordenadora do curso, carinhosamente todos a chamavam de D. Mariazinha, para mim ela era mágica! Sua sabedoria e sua simplicidade me deixavam impressionada. Além de trabalhar numa faculdade particular, lecionava em escola estadual com alunos de 5ª a 8ª séries, ela nos contava suas experiências e sobre a necessidade de auxiliarmos nossos adolescentes. Suas aulas me levaram a crer que eu também poderia ajudar nossas crianças ou adolescentes de alguma forma. Estudar a nossa língua, falar sobre ela, fazer leituras para emocioná-los era uma forma de mudar a vida, aliás, de crescer na vida.
Só quando terminei a faculdade é que entrei numa sala de aula, o salário de professora não pagava o curso então não podia deixar de trabalhar com meu pai para poder terminar o curso. Nos primeiros anos em que lecionei desejava voltar à faculdade e tirar todas as dúvidas que iam surgindo. Mais tarde aprendi que a experiência ensina muito, mas a força de vontade e o desejo de vencer parte de cada profissional, e são fundamentais para o sucesso tanto do professor quanto do aluno.
Logo que terminei a faculdade lecionei como professora contratada em escola estadual e em escola Particular numa turma de ensino médio, o Terceirão, preparando-os para o vestibular. Esta turma quase me deixava louca, talvez por minha insegurança ou inexperiência. Estudava muito para chegar em sala de aula ‘pronta’, ledo engano, nunca se está pronta numa sala cheia de adolescentes questionadores, contudo sempre vencia meus objetivos.
Enfim, valeu a pena todo meu empenho, em 1998, dois anos após o término da faculdade, passei num concurso municipal em primeiro lugar, assim me efetivei como Professora 20 h/a. pelo município e no ano seguinte, passei num concurso estadual em terceiro lugar, pude escolher uma escola próxima a minha residência, também com 20 h/a, e dessa forma me estabilizar profissionalmente.
Não paro, sempre me proponho a mudanças, a aprender mais, fiz pós-graduação em didática e metodologia do ensino e quando aparecem oportunidades de novos cursos estou aberta a novos conhecimentos. O programa Gestar será um desafio, os encontros entre professores, a troca de experiências feitas através das oficinas, com certeza é uma nova oportunidade para meu comprometimento com a educação e crescimento profissional e pessoal, oportunizando também a meus colegas – professores cursistas - para mais este aperfeiçoamento e a meus alunos regulares, a darem mais um passo rumo a novos caminhos que seguirão.

Carmem Lúcia de Abreu
15/06/2009

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